quinta-feira, 26 de maio de 2011

Várias formas de amar.

8:50. Aula de Física.


Vitória


Fala sem pedir atenção. E nem precisa. Tamanha desenvoltura e confiança fazem todos os olhos voltarem para ela. Sorri de orelha a orelha quando acerta a resposta - e sempre acerta - e abre os olhos quando erra para ouvir a explicação. Aqueles olhinhos cor de mel me fazem esquecer até a pior nota de física.


12:40. Almoço.


Adelaide


Um cabelo tão resplandescente que é capaz de ofuscar nosso astro Sol, que os faz brilhar e me deixa quase cego. As sardinhas na nuca, que gosto de brincar de liga-pontos quando fico atrás dela na fila do caixa, o perfume frutal que exala e continua exalando a dez metros de distância, e que alivia a dor de já não estar mais perto dela.


16:50. Treino de basquete.


Leonardo


De me deixar babando e perder de 50x0 se meu time dependesse só de mim. Sempre cometo alguma falta, de propósito, para ficar no banco de reservas, observando aquele semi-deus com um corpo meticulosamente malhado tentando disfarçar a magreza, de pele branquíssima, que contrasta com os cabelos negros e as sobrancelhas de acabamento enquadrado. Um sorriso que permanece na memória por muito tempo. Ou pelo menos até as próximas quatro horas.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Veja o sol dessa manhã tão cinza.

Sumida, eu? Vamos recuperar o tempo perdido:
Tenho dormido muito com meu namorado. O problema é que tenho dormido em dia de SEMANA, e a aula dele começa mais cedo (7h) que a minha (7h40), e ele demoooora pra acordar e eu fico morrendo de pena de acordar tal criatura que parece intocável de tão pura, tão mansa e tenra, tranquilo ao meu lado. 
Mas temos que acordar. E fica um tal de chamego pra cá, abraço pra lá, carinho acolá...o tempo nunca é nosso amiguinho e quando a gente vê já é tarde e ele acaba se atrasando. E não tem a mesma sorte de ter uma aula que começa tarde.
Na sexta ele tem um descanso a mais, já que o curso de game developer (nerd? Imagina!) começa às 8h. Mas é na Barra e eu moro longe da Barra. 
O mais chato é que, com namorado, a gente não liga pra horário e fica acordado até meia-noite, mostrando coisas interessantes na internet, fazendo carinho, trocando opiniões, etc. etc. E não pode dormir tarde!
A última vez fui de camisa listrada tamanho GG - supertendência, tá? Hunf - pra escola, preparei a mesa do café da manhã toda bonitinha e quando vejo são 5 pras 7. E ir pra aula de barriga vazia não pode! Toma pelo menos um copo de leite.
Mas se a gente pensar que estar junto novamente já é uma coisa tão digna, tão maravilinda, vamos nos dar conta de que nem foi tempo perdido. Somos tão jovens e temos nosso próprio tempo. E tenho dito.

domingo, 1 de maio de 2011

Contraindo o descontraído

- Antônio! O Alfredo me chamou pra almoçar na casa dele, vamo?
- Ah, sei lá, nem conheço ele...
- Que nada! Não tem essa com ele. Ali todo mundo é da casa, sem cerimônia, num tem frescura.
Sem frescura? Já é, então. Boto meu bermudão, minha camiseta estilo "liberdade pra dentro da cabeça", meu chinelo e vou. Chegando lá, mas que vergonha: um apartamento por andar, 500 m² só na parte de baixo, empregadas uniformizadas, orquídeas...enxergo o anfitrião: relaxado? Tudo pose: camisa pólo Ralph Lauren, bermuda nude, sapato Crocs, chapéu Panamá.
- E aí, cara, tudo bem? O Bruno me falou muito de você.
- Tudo ótimo, claro...- falou bem ou mal? Falou que trabalhava nas Casas Bahia e morava num quarto-e-sala ou que era o primeiro em Geografia e fera no surf?
- Senta aí. Vou trazer alguma coisinha pra vocês beliscarem. Valentina, traz aquele couvert e a manteiga de ervas? Ô, obrigado!
Chega a comidinha. Três tipos de queijo, todos importados. E uma faca para cada um, né? Onde já se viu cortar Gruyère com a mesma faca de brie? Na mesa, livros de artistas renomados, tudo hype: Warhol, Rothko...
- Ih, o pessoal já tá chegando!
Pessoal? Meu deus, socorro! Todo mundo com aquela pose de relaxado, com o visual milimetricamente planejado. A casa era tão grande que não havia interação. Cada um na sua panela, e acaba que a gente não sai pra se divertir, mas pra ficar conversando coisas que se falam em particular, coisas muito pessoais, um clima muito antissocial reinava.
- Senhor, avisa que a comida já está pronta - diz a empregada, coitada, tímida, temendo chamar atenção e ser descontada no salário.
O clima "relax" predominava na mesa também: eram frutos do mar, lula frita, salada de carambola com rúcula baby e cogumelos selvagem. Cara de praia, claro. Mas praia do Hawaii, não do Rio. Praia chique.
Um descontraído tão superficial que as próprias pessoas estavam contraídas, tentando manter a pose não-estou-nem-aí; como se aquele ambiente fosse um fruta, um limão - siciliano! - que eu me situava na casca dele, e quando o espremi para ver se tirava a essência do real descontraído, já estava em casa. Aonde ninguém finge ser melhor do que é e a cerveja somos nós quem servimos.